Acordei
todo intubado, havia tubos enfiados em quase todos os buracos do meu corpo, de
repente todas aquelas memórias do plano espiritual vieram à tona, agora eu
sabia que estava na terra, entrou uma enfermeira no lugar, me viu e arregalou
os olhos, logo saiu correndo da sala, eu queria falar, mas havia um tubo na
minha boca.
A
enfermeira voltou com a equipe, começaram a checar meus dados e decidiram me
desintubar, quando enfim tiraram o tubo da minha boca, eu quase vomitei, uma
sensação horrível de ânsia de vômito, eu sentia minhas vias degustativa e
respiratórias queimando, logo o médico se apresentou, era o Marcus, ele disse
que as sensações eram normais, por conta dos equipamentos usados pra me manter
vivo, eu estava em coma faziam quinze dias.
Eu
olhava pros aparelhos e para a sala, não acreditando que estava vivo, que tinha
voltado, enquanto isso Marcus dava seu veredito médico, eu perguntei sobre
minha família e ele disse que a chamaria, logo entraram meus pais e meus irmãos
na sala, junto com minha esposa, aquele foi o melhor momento da minha vida até
então, quando estava na dimensão dos espíritos, uma das coisas que mais me
angustiava, seria a possibilidade de nunca mais encontrar meus entes queridos.
Minha
mãe e pai perguntaram se eu havia compreendido que ficaria na cadeira de rodas,
eu sorri e disse que sim, eles olharam como quem se perguntava se eu não havia
batido a cabeça e alterado meu intelecto, depois daquele momento magnífico do
reencontro, entrou uma senhora na sala, se identificou como Ângela, era
psicóloga e investigava sobre EQM – Experiências de Quase Morte – ela me
perguntou se eu tinha visto ou vivido alguma coisa, quando disse que sim, ela
ligou o gravador e pediu pra eu começar a relatar.
Após
o relato eu perguntei se eu era o primeiro a dizer tais coisas, ela disse que
não, que isso era normal, milhões de pessoas tinham EQM em todo o mundo, quando
ela saiu entraram duas amigas minhas Ise e Luísa, elas foram as primeiras, me
confessaram anos depois que ficaram atrás da porta sem saber o que dizer ou
fazer, dado ao quadro em que me encontrava, amputado as duas pernas, com lesão
medular completa, sem sentir nada do umbigo pra baixo.
Elas
conversaram comigo e se espantaram com meu entusiasmo, perguntaram se eu tinha consciência
do meu quadro clínico e eu revelei a verdade mais importante do mundo: Eu
estava vivo! Abraçaram-me e começaram a chorar, quem assistia tudo o tempo todo
era minha esposa, ela ainda estava dopada de remédios, pois havia entrado em
choque e não estava muito bem.
Esses
primeiros dias no hospital foram um alvoroço de gente, muitas pessoas mesmo,
tanto que as enfermeiras me apelidaram de “deputado”, nunca imaginei que tanta
gente gostava de mim, confesso que fiquei surpreso, até os amigos que não
falavam tinha um tempo, apareceram, todos com uma preocupação fora do comum com
minha saúde e eu sempre repetindo o mesmo diálogo: Gente olhe pra mim, eu estou
aqui, tudo bem que pela metade, mas estou vivo!
A
equipe tentava me ensinar como seria minha nova vida em uma cadeira de rodas e
sem as pernas, a psicóloga ficava cada dia mais impressionada com minha força
de vontade, por estar naquela situação e confiante, sem mostrar traços de
depressão, o que seria normal nesse caso, aos poucos fui me dando conta de que
a missão não seria nada fácil, estar vivo era apenas o começo do recomeço, o
futuro era certo, eu já tinha um vislumbre de como seria e que seria auxiliado
pelos espíritos de luz.
Continua...